Às vezes me esforço em entender o que impulsiona pessoas bem intencionadas, com força de condução na opinião pública, a tomarem posicionamento tão contrário ao tratamento medicamentoso da obesidade. Em minha ótica, tal posicionamento coloca o obeso na posição de usuário de drogas e o médico assistente na posição de traficante ou aliciador.
- É aceito que o obeso tome medicações pelo resto da vida para o diabetes, mas questiona-se o tratamento da principal causa subjacente do diabetes que é a obesidade.
- É concebido como salvadora a revascularização miocárdica e toda terapia medicamentosa após tal procedimento, mas questiona-se o tratamento de um dos principais contribuintes para a doença coronariana, que é a obesidade.
- os cânceres, doenças articulares, doenças respiratórias são mais freqüentes em obesos, tudo pode ser tratado com medicações, menos a obesidade.
Será que as medicações antiobesidade trazem transtornos suficientes que justifiquem a ocorrência de todas as possibilidades acima?
Nos EUA, onde 100 % das medicações são prescritas por médicos (a maior parte especialistas), o grande questionamento é o drama da obesidade e suas conseqüências e nós insistimos em condenar o tratamento do obeso e não os critérios.
Em todos os transtornos, o tratamento preferencialmente deveria evitar medicações: insônia, depressão, impotência, (males que sugerem influência de componentes psicológicos), hipertensão, diabetes, artrite reumatóide (e qualquer outra doença para a qual o componente genético possa ser mais importante), porém o uso de medicações prolonga a vida por tempo indeterminado destes pacientes para os quais terapias mais simples não resolvam.
Por que não tratar o obeso? Se a medicação passa a causar algum dano (para qualquer que seja a doença), coerentemente suspendemos a medicação. Tomemos como base o grande número de impotência transitória patrocinada por anti-hipertensivos, e quando retirada a medicação, o drama está resolvido. As crises de broncoespasmo causadas por Beta-bloqueadores utilizados como anti-arritmicos ou antihipertensivos nem sempre são solucionadas, pois uma crise grave pode não permitir a chegada da urgência até um serviço médico. Da mesma forma o desfecho de um sangramento gástrico causado pelo uso de AAS infantil na prevenção Infarto de Miocárdio nem sempre é alta hospitalar com antiácidos. Nenhuma dessas situações deve fazer com que os tratamentos com os fármacos citados sejam execrados do rol terapêutico, devem nos fazer mais atentos e rigorosos, mas sempre - e pra tudo.
Se o caminho da orientação dietética e de exercícios é ineficaz, porquê não tratar farmacologicamente a obesidade se é permitido tratar a qualquer preço (e alguns são mesmo MUITO caros) todas as conseqüências? Em outras palavras: o obeso merece respeito.
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