Quando sou solicitado a expressar minha opinião quanto ao tratamento de obeso, como de costume abordo inicialmente a necessidade da mudança de perfil sedentário, acoplada a uma reorganização dietética. Porém, quando a questão básica é o tratamento farmacológico nunca me esquivo.
Trato a obesidade, assim como nunca me esquivei de tratar a hipertensão arterial sistêmica, ainda que inicialmente oriente a diminuição do sal da dieta e à pratica de atividade física moderada.
Nunca deixaria de tratar farmacologicamente a insônia, quando todas as outras alternativas fossem esgotadas e não deixo de tratar o paciente diabético se a mudança de hábitos alimentares e de vida não forem suficientes para o controle glicêmico.
Parece-me óbvio que tratar o obeso com medicações não seja obra do demônio. Porém não é incomum, receber paciente que se apresenta à consulta, meio que escondida do marido, pois o cônjuge é “completamente contra a medicação”, mas a paciente vislumbrando a possibilidade de perda do companheiro para a amiga do escritório, permite-se à traição filosófica, pois já trilhou todos os caminhos “legais” e não conseguiu o emagrecimento. Não nego que a situação é desconfortável, mas a causa é nobre.
Pior momento, é quando o paciente nos procura por indicação do cardiologista, para perder peso e melhorar a pressão arterial, mas já é avisada: nada de “bolas” hein; traduzindo o que alguns colegas médicos entendem por medicações anti-obesidade. Em outras oportunidades, o paciente já ouviu que quando parar de tomar as medicações “voltará a engordar tudo de novo”.
Bem, vamos por partes. Se engordarmos tudo de novo é sinal de que a medicação é necessária e assim, como no hipertenso, quando é retirada a medicação os níveis pressóricos se elevam novamente. Fica sugerido, que para alguns pacientes obesos, seja necessário o uso contínuo de medicações.
Por outro lado, a “bola” criada pelos alemães na 2ª guerra mundial a chamada anfetamina, já saiu do mercado há vários anos, e o que esta é o anel fenetilamina, o que faz com que não haja a maioria dos efeitos indesejáveis da anfetamina nas medicações atuais. Tornando ainda incorreto a utilização do termo de anfetamina para estes fármacos.
A abstinência apresentada para alguns pacientes, quando ocorre a suspensão de tratamento farmacológico para obesidade, freqüentemente é vista quando existe associação de benzodiazepínicos, podendo causar mau estar, sudorese, insônia e outros sintomas.
A depressão pode ocorrer em pacientes propensos que habitualmente apresentam história anterior ou familiar de depressão e simplesmente o gatilho é apertado pela medicação, porém, até mesmo um evento emocional importante poderia fazer expressar a doença. Além disso, as medicações mais atuais no tratamento da obesidade sequer apresentam um núcleo fenetilamina, onde a sibutramina (Plenty Reductil), ou orlistat (Xenical) possuem mecanismo fino de ação.
Não podemos esquecer que qualquer versão de tratamento farmacológico pode ter efeitos colaterais, tais como sangramentos gástricos graves pelo simples uso da AAS em enxaquecas, impotência deflagrada pelo uso do metil-dopa ou propanolol, tose insuportável pelo uso de captropil (fármacos utilizados nos tratamentos de Hipertensão). É responsabilidade do medico assistente monitorar, ajustar e se necessário retirar a medicação.
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